segunda-feira, 12 de junho de 2017

Despedida


Naquela noite, acomodou a grande mala de cor caramelo na cômoda velha. Escolheu uma roupa quente para dormir e, após utilizar o chuveiro, deitou-se na cama de casal cujo cheiro não representava exatamente o aconchego que julgava merecer. Viu a chuva escorrer pela janela do pequeno quarto de hotel e, a despeito do pouco conforto e mau cheiro, sentiu-se ligeiramente bem. No dia seguinte, haveria de partir logo cedo. E o fez. No caminho para a pequena cidade remoeu as duras palavras de Camila: “preciso de um tempo só pra mim”; lembrou seu olhar de desprezo e pouca consideração por tudo o que já viveram. A moça o expulsara de sua vida abruptamente, com a crueldade legítima das mulheres que se bastam. Não a perdoaria, não mais. Acelerou o carro para aproximar a despedida. Haveria de vê-la pela última vez na cidade aonde se conheceram. Apegou-se ao simbolismo do lugar para então seguir livre, começar uma nova vida sem ela. Ao vê-la, mais tarde, não encontrou palavras. Ficou mudo. Sentiu um misto de raiva e ternura. Despediu-se e não olhou para trás. Saiu da estrada de terra levando consigo a mala caramelo vazia. O coração vazio. Na volta, mais adiante, hospedou-se no mesmo hotel barato. Acomodou a grande mala de cor caramelo na cômoda velha e tomou um banho para livrar-se do cheiro de sua ex. Não queria mais lembrá-la, não mais.

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