E
então eles disseram coisas que pensavam – porque era certo pensar daquele
jeito. Eles se perderam quando mais queriam se encontrar. Essa mania chata de
buscar explicação, nomear o que se sente, sempre nos leva o que há de mais
belo. Ele via nela qualquer coisa como uma estrela em um céu de uma estrela só.
Ela via nele qualquer coisa como um raio num país de só escuridão. Ele não era drogado
ou ladrão. E tinha medo. Ela Não era freira ou filha única, de um pai doente ou
coisa assim. Mas algo no mundo, algo indiferente e sóbrio, os adormeceu para
sempre.
Ela
tinha medo também. Não era, pois, amor. Era nada demais. Só uma coisinha que
fazia doer, doer sem fim. Porque era certo agir daquele jeito.’eu sinto seu
cheiro quando faço nada’, disse ele. ‘Eu tenho o teu gosto na boca’, ela
confessou.
Era um nada que era bom. Era tão bom que
sentiram medo. Ele disse um dia ‘ adeus’. Ela nada disse. Despediram-se sem
dramas. Com o louvor de quem nada sente. Esperando que se revelassem, mas já
cansados.
Num
dia, então, janeiro ou abril, perceberam-se ausentes.