sexta-feira, 28 de setembro de 2012
Espelho
Tu não amas nem a ti nem ao mundo
Nem a deus, nem a teu pai, ou a teu filho.
Nem a beleza que é a beleza que cria todas as belezas que dizes perseguir;
Tu não amas o silêncio que é tua companhia
Nem o amor com o qual sonhastes tanto
E tua própria dor de existir.
Tu não amas a nada e a tudo relutas
E qualquer amor que te há de envolver e ser maior que tu
Há de ser desfalecido antes em teus braços
Teus braços que não foram erguidos na batalha
Nem ajudaram a amamentar no seio uma nova vida
Ou abraçaram qualquer alguém que não tu mesmo.
Não te abraçaste nunca.
Tu tens medo da derrota que te há de trazer o amor
Mas antes que a derrota te chegue, tu hás de morrer
Não de amor, mas da falta de ti mesmo, pois tu não és o que és
Tu és o próprio mundo que rejeitas.
(Michelle Portugal - 25/09/2012)
sexta-feira, 31 de agosto de 2012
Dos motivos
Eu procuro versos e de procurar me canso
Além de me cansar de todas as procuras
De todos os tons que me enfeitam a janela
De todas as cortinas que me privam o sol
Eu penso verdades e também me canso
Além de me obrigar a engoli-las
( são bisturis)
E ainda frágeis e fugazes como a beleza
E eu procuro versos como quem quer alívio
De todos os males que fartam o coração
E de verdades que mentem, apenas
E dos porquês que se cansam, sem paixão
Michelle Portugal 07/11/2010.
Imprecisão
Olha, eu nem sei mesmo quem sou. E jamais me encontrei
nesses becos escuros onde o silêncio e a dor se locomovem nos pulmões.
Também não há rastros de mim nas amarelinhas da Rua Vicente
Quaresma, verão, mil novecentos e noventa e sete.
Sabe? Não me importa mais saber se nasci há dez mil anos ou
morri nos vinte segundos subsequentes. Vou ali dar uma volta com o vento,
assoviar nem sei o quê e seguir sabe- se lá pra onde...
Michelle Portugal
Eco
Em um mundo de palavras nenhuma palavra há
Nenhuma palavra há para embalar as vísceras em um mundo
De palavras e vísceras
(esmagadas)
Michelle Portugal
Carta com C
Caro Carlos
coisas conto
como careço
cantar canção
comecei curso
colegas camaradas
cada casa clarão
coisas calei
como contar?
cada canto
céu cinza
considero carência
contudo, conto cada chão
carinho cá,
Carolina.
Cara Carolina
Cada canto
Céu cinza
Cada curva
Cerração
Careço contar
Coisa cruel
Como calei
Cada canção
Como Chorei
Cada chão
contudo, criou coragem
coração
carrego carinho
criança cresci
correspondo cartas
cada coisa cri
Michelle Portugal
Verbo
Queria
mesmo me perder. Desmemoriar. Não lembrar de nomes ou cores. Me perder pra
finalmente me encontrar.
Não
muito triste, mas com certo cansaço eu digo que a vida se repete. E todos os
dias a canção chora na voz do artista. E ouço a canção e me lembro de quantas
canções é feita uma só canção. As pessoas chegam e vão embora. Um dia
percebemos que estamos sós no grande mundo. Não abandonados, renegados de deus.
Deus que nem sempre cabe no próprio nome. Mas sós nesta busca frágil. Algo me
diz que vivi na terra há trezentos anos. Eu chorei como eu choro hoje. E vi as
mesmas estrelas e contei os faróis. Meu coração há de se lembrar. E sempre foi
assim: eu sozinho no mundo, procurando por alguém. Mas alguém não tem nome.
Alguém é sempre quem não temos. E quando temos, já não temos mais.
(Michelle
Portugal)
segunda-feira, 7 de maio de 2012
Depois
Perguntou
quantas almas haveria de ter. E entre o espanto e a miséria não se
reergueu. Perguntou se fé haveria de ter. E entre o medo e o vôo não se
conteve. Comportava memórias e corações nas digitais que eram suas.
Tinha um mundão no peito pra carregar. Cigarros. Cold Play. Ok.
Finalmente entendeu que valia a pena. Não parou.
Na outra esquina, porém, a morte desalmada lhe atracou os pulmões. Fez silêncio no céu. Mas que céu haveria de ser silenciado? Haveria, pois, um céu?
Inevitáveis, os medos quedaram e já sem sentido adormeceram os outros pulmões e corações e memórias. Restava agora só o vôo. Uma imagem informe. O Caminho pós-despertar.
Tinha um mundão no peito pra carregar. Cigarros. Cold Play. Ok.
Finalmente entendeu que valia a pena. Não parou.
Na outra esquina, porém, a morte desalmada lhe atracou os pulmões. Fez silêncio no céu. Mas que céu haveria de ser silenciado? Haveria, pois, um céu?
Inevitáveis, os medos quedaram e já sem sentido adormeceram os outros pulmões e corações e memórias. Restava agora só o vôo. Uma imagem informe. O Caminho pós-despertar.
(Michelle Portugal - 05/05/2012)
quarta-feira, 25 de abril de 2012
No dia em que nasci
No dia em que nasci
Veio um anjo de couve
Nem cavalo nem nave se viu
Sorrindo nada disse
Fugiu
Desde então fiquei embasbacada
(e veio outro anjo de bytes
no dia em que nasci
parou olhou gritou em transe
vai ser astronauta-pedreira-inventora
criança na vida)
eu chorei.
e vejo deuses
gafanhotos
ouço sinos marimbondos
nada sei.
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